O girassol é uma flor. Logo, ele é ela.
Peculiar justaposição de elementos antagônicos, essa é sua beleza.
- Eu sou Girassol Volátil. Lhe avisei.
Mas ele, desapercebido, reteve somente a primeira parte do sintagma.
Girassol.
E foi bom enquanto eu era flor.
Era força exuberante, delicadeza amarela cujo núcleo denso carregava histórias, encantos e certezas. Eu era sol.
Mas eis que, como tinha de ser, chegou-me o momento do ocaso.
Volatizei. As certezas se esvaíram. A insegurança brotou. De minha matéria sobrou apenas uma sutil essência que carregava o ser, mas ser disperso, desintegrado no ar de mim, nos ai de nós. Eu era esse agora.
Ele, queria aquele.
E sentiu-se ferido pela instabilidade constituinte das coisas que são.
O movimento que particulariza todo girassol - seja ele de qualquer espécie - é suave e constante. Sendo assim, já posso vislumbrar novo dia. E com ele nascente inaugural de mim. Nova materialidade que desabrocha e se desdobra.
O Girassol Volátil não possui perfume. Pois é, ele não é flor que se cheire.
terça-feira, 13 de julho de 2010
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