sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lamento feminino (inacabado)

Se me perguntam como é ser mulher, respondo: sou árvore.

O meu lamento é de outra ordem

Eu quase não sei de nada

Nesse fim de inverno choro ainda pelas folhas caídas

Tento sentir a seiva rubra que oxigena minhas células

e as raízes que me mantém na vertical

Sou como res desgarrada

desse mulherio caminhando a esmo
[e nosso destino será um só?]

Se me pedem para discutir o feminino,

eu nêgo, me nego.

Não se discute porque se respira

nem porque é certo que depois do inverno chega a primavera

Não há motivos para o desespero

nem para predicações e justificativas excessivas

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A donzela guerreira

Em abafo,

minha revolução silenciosa eclode no mover do meu corpo

e no beijo que chega aos olhos.


(Se estes são a janela da alma,

quem os beija está mais perto de mim?)

Presente de uma amiga

Tu Tens um Medo

Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.

domingo, 5 de setembro de 2010

Lamento Sertanejo

http://www.youtube.com/watch?v=3kUDgVQDvVQ


Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

Dominguinhos e Gilberto Gil